Estrada separa salas de aulas no Sambizanga

17/09/2011 13:43

 

Estrada separa salas de aulas no Sambizanga

Uma boa parte dos alunos dessas escolas, abordados por O PAÍS, entre as 12 e 14 horas de Terçafeira, 13, disseram que correm perigo todos os dias normais de aulas, devido às deslocações necessárias, de um para o outro lado da instituição, sob um trânsito automóvel imparável.

“Aqui todo o movimento para fora da sala é ir ao perigo, mas nós também não podemos ficar num só lado, porque temos irmãos e amigos no outro”, informou o menino que respondeu pelo nome de Paizinho, alegando que “só as portas das salas já dão para o asfalto”.

Pressionado pela presença de alguns professores e da directora da escola, Esperança Amaro, que se recusaram a prestar qualquer depoimento, por alegada falta de autorização da parte de seus superiores, o garoto de 11 anos não aceitou dar informações sobre a sua turma e classe, embora levasse na sua pasta livros da 5ª Classe.

Momentos antes da presença dos seus formadores, Paizinho tinha revelado à nossa reportagem que, por vezes sem conta, os seus pais já decidiram tirá-lo da 4016 para outras escolas da cercania, mas o rapaz recusou-se, ainda antes dos nove anos, tendo prometido aos pais que só sairia da turma com a ajuda de um mais velho.

Hoje, já um pouco crescido, o aluno se sente orgulhoso por ter enfrentado um risco, que considera pouco comum aos da faixa etária com que entrou na instituição. “Já tenho 11 anos e, quando me lembro que entrei aqui com apenas seis sinto-me orgulhoso, porque com essas condições não é fácil uma criança voltar sempre à casa sem, em alguma ocasião, ter sido atropelado por um carro”, gabou-se Paizinho, apontando como segredo à obediência as recomendações dos pais e dos professores.

Questionado se durante os anos que frequenta as aulas na 4016 nunca assistiu a um acidente, o estudante acenou com a cabeça, para mostrar que já testemunhou casos do género, ao ponto de, com ajuda dos dedos da sua mão direita, estimar em quatro o número de atropelamentos. “Lembro-me do primeiro, quando eu ainda estudava a 1ª, o carro bateu num miúdo da 2ª, que nunca mais voltou à escola”, explicou, dizendo que uns justificavam a sua ausência por agravamento e outros por lhe terem transferido imediatamente para um colégio do bairro.

Quem não se mostrou indiferente, no que aos atropelamentos diz respeito, foi a aluna Maria, segundo a qual não há meses sem registos.

“Mas o problema é que os professores e a direcção da escola conversam connosco, recomendando-nos a não dizer nada sobre esses acidentes”, revelou, sublinhando que não têm faltado chamadas de atenção desses formadores para “nos cuidarmos ao atravessar a estrada”.

A convivência com o perigo pareceu ser tanta por parte de Maria que, apesar dos seus 12 anos, ela já pensa numa solução, que considera imediata.

“Se a escola está dividida em dois blocos, então é construir um pátio lá em cima que vai unir as duas partes”, propõe a pequena, alegando ser esta a única solução que vai permitir às crianças brincarem à vontade, enquanto os carros também circulam normalmente, por baixo do pátio.

A escola 4016 situa-se na conhecida rua do Mimoso, município do Sambizanga, em Luanda. O estabelecimento de ensino comporta dois edifícios separados por uma estrada asfaltada. O estabelecimento tem, no total, oito salas, sendo três do lado direito e outras cinco no esquerdo, no sentido mercado do São Paulo bairro do Sambizanga adentro.
 

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