Bruno M: Mister Kuduro

16/09/2011 20:37

 

Bruno M: Mister Kuduro

MÚSICO, ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO

Encontrámo-nos com Bruno M, o kudurista do momento, nos Ex-Combatentes, a zona de Luanda que — como o próprio afirma, o ajudou a ser a pessoa que é hoje. Simpático e ciente das suas responsabilidades na sociedade, Bruno não promove a imagem típica do kudurista, revoltado e contestatário.

Não obstante o artista venceu há bem pouco tempo o Top Kuduro, organizado pela Rádio Escola, cujo júri foram os ouvintes. “Este prémio trouxe consequências positivas, elevou a minha auto-estima e só me fez ver que preciso melhorar em vários aspectos, pois a sociedade angolana tem prestado atenção à minha música e acima de tudo compreende o meu trabalho”.
 

KUDURISTA POR ACIDENTE

Começou por fazer freestyle de rap na rua, com os amigos “Eu sempre digo que comecei a cantar kuduro por acaso. Alguns dos meus amigos já cantavam kuduro, e então pediram-me para começar a escrever as músicas para eles. Certa vez escrevi algo que eu achei que merecia um tratamento especial, e não encontrei ninguém que correspondesse as minhas expectativas. Houve um dia que, como eu já produzia instrumentais, tranquei--me no quarto com o meu equipamento, que nem era o adequado, e gravei a música”, isto em 2004. Quando exibi a música intitulada “Não Respeita” aos amigos e vizinhos, fui motivo de chacota, “Eles zoavam comigo, diziam que a música era má, mas depois de um tempo começaram a gostar e a aplaudir, vinham sempre pedir uma cópia da gravação. Desde então não parei mais”

Ao contrário dos amigos e vizinhos, os familiares de Bruno M sempre o apoiaram nesta empreitada, “A minha família reagiu bem ao facto de eu estar a cantar kuduro, porque eles já sabiam que eu cantava. O kuduro naquela época era um grande tabu em determinados meios sociais. A maioria das pessoas que faziam kuduro eram consideradas como anti- -sociais, quer pelo conteúdo extremista das suas músicas, como pela maneira que se apresentavam. Apesar disto tudo, creio que consegui provar aos meus familiares e a sociedade em geral, que era possível fazer um kuduro diferente, e prova disto é estarmos aqui hoje a falar do kuduro já como um estilo musical e não como uma “música dos marginais”, como antes era tratado”.

 

A BATIDA UNICA DO EX-COMBA


O álbum Batida Únika foi lançado em 2008, pela LS Produções. Dele fazem parte sucessos como “Já respeita ne”, “Olha kem vem ai”, “Para Xoke”, “Tokes de Kaixa”, “Tsunami”, “I am”, “Dança da Tropa”, “Enju Tupiluke”, “É bom”, “Tropa 100”, “Farda”, “Txubila”, “1 para 2”, “Sentem!”, “60 Segundos” e “Maratona”.  O próximo álbum será lançado este trimestre e inclui o megaêxito “Dança dos Ex-Comba”.

 

OS BEEFS MUSICAIS

O nome de Bruno M já foi várias vezes citado durante os famosos problemas que existem entre os kuduristas. “Eu considero os beefs como algo normal, pois onde há vários homens a fazerem a mesma actividade existe a controvérsia. No kuduro não é diferente. O nosso estilo tem uma origem e crescimento semelhante ao do rap nos Estados Unidos da América. É um estilo musical juvenil e urbano que traz a vivência das cidades e principalmente dos guetos, para a música. Muitos transportam a intriga das ruas para a música, o que até certo ponto é bom. Antes brigarem através das músicas, onde ninguém molesta ninguém, do que através de gangues. O kuduro já permitiu a muitos jovens saírem da criminalidade”, defende o cantor.

Para ele, muitas vezes, são os fãs e a imprensa que incentivam os problemas entre os cantores de kuduro, “Ás vezes estou no palco e depois da actuação vem o público dizer que um outro cantor falou mal de mim. Se eu responder a esta primeira provocação, isto vai permitir o surgimento de um problema ainda maior”.
 

PRIMEIRA VEZ NO TOP

Quando o inquirimos sobre os seus gostos musicais, o cantor surpreendeu-nos revelando ser fã do cantor James Blunt: “ Eu admiro muito este cantor, as suas músicas e principalmente a postura que ele adoptou. É um músico muito humilde. Como também não sou um bom bailarino, as músicas mais calmas ajudam-me e fazem-me relaxar. Se tiver de dançar, danço, mas só em ambientes mais restritos”.
 

 

Perfil

Nome: William Bruno 
Diogo do Amaral
Natural: Malanje
Livro predilecto: Adoro ler, 
mas não tenho um predilecto
Local de culto: Minha zona, Ex-Combatentes
Comida predilecta: Feijoada
Formação: 3.º ano de Direito, Universidade Independente
de Angola
Ídolos na política: Alda Sachiambo e Bornito de Sousa
Ídolos na música: James Blunt, Anselmo Ralph, Matias Damásio, Bob Marley, Yannick
Restaurante: Veneza, 
em Luanda
Discoteca: Não sou muito apreciador de discotecas
 

 

Também confessou que tem enveredado por novos projectos, como a produção de musicais no estilo gueto- -zouk. “Eu também sou produtor e agora estou com uma queda muito grande para produzir instrumentais em gueto-zouk. Olha que já estou a procura de alguém para cantar nestes instrumentais. Se não encontrar ninguém que cumpra com o que eu quero (risos), vou trancar-me de novo e gravar a música”.

Recorde-se que Bruno M foi o vencedor do primeiro Top de kuduro realizado em Angola, “A iniciativa foi uma mais valia, porque mostra que as pessoas estão a levar o estilo mais a sério, o que é uma mais valia para todos os kuduristas”. O músico também participou no “Top dos Mais Queridos” de 2008, com uma das músicas mais ouvida nos últimos anos, “Tchubila”. “Para ser sincero fiquei um pouco triste neste dia. Quando lá cheguei não pensei que pudesse ganhar, mas depois da minha actuação pude ver que mais de metade da sala torcia por mim. É necessário que as instituições que realizam estes concursos prestem mais atenção a estes detalhes. Eu julgo que estava em condições de estar pelo menos entre os três principais. Foi bom ver que quase todo o mundo pensou o mesmo. Quando estavam para chamar o vencedor, quase toda a sala chamava pelo meu nome. Se eu fosse uma pessoa fraca isto era capaz de me tirar toda vontade de continuar a cantar”.

Na realidade a música “Tchubila” é um dos maiores sucessos de Bruno M, que foi muitas vezes usado por outros artistas durante os seus espectáculos: “Muitos músicos de kizomba e até mesmo de semba, têm utilizado as músicas dos kuduristas para atraírem mais público durante os seus espectáculos. Às vezes nem pedem autorização para o fazerem. Noutras circunstâncias ainda menosprezam o kuduro”, lamenta. Até agora o seu maior prémio tem sido o sorriso do seu filho, William, de onze meses, o seu maior orgulho, “Ele e a minha esposa ajudam-me bastante. São uma grande dádiva para mim”, afirmou emocionado.

O NOVO ÁLBUM

O próximo álbum de Bruno M, dois anos depois do sucesso de Batida Únika, estava para sair no final do ano passado. Devido às provas finais na universidade, o músico preferiu adiar o lançamento, “Comecei a fazer música como um hobby. Mas como demonstrei, desde o início, que podia fazer um bom trabalho fui levando a carreira musical mais a sério. Isso tem sido bastante complicado de gerir, porque para me dedicar mais à música tive que deixar de lado alguns projectos, como os estudos. Mas é da música que vem o meu sustento maior. Logo é preciso manter um grande equilíbrio pois quero terminar os meus estudos com êxito”, assegura.

O músico pretende lançar o novo álbum em Abril, um trabalho que incluirá o seu novo sucesso “Dança dos Ex-Comba”. Mais uma forma que arranjou de homenagear o bairro onde vive.
 


 

vencedor do PRÉMIO KUDURO 2009

Com o tema “Dança dos Cambas”, Bruno M, através de uma votação do público, suplantou poderosos concorrentes como Os Lambas, Xtru Bantu e Puto Lilas. Como prémio recebeu oito mil dólares, um diploma e uma estatueta. A cerimónia homenageou os pioneiros Sebem e Tony Amado, e contou com as participações de Noite e Dia e da mais recente estrela KB (ou Come e Não Se Borra).

Voltar

Pesquisar no site

© 2011 Todos os direitos reservados.